sexta-feira, 3 de setembro de 2010

mais do mesmo

Não me restam personagens onde não esteja eu ali parada no esboço devolvendo meu olhar ao meu espectro.
Exaustivamente procuro moldar um redemoinho a ponto de torná-lo tátil, nomear a ausência, frasear o silêncio.
Repito numa repetição infinita, exaustivamente engasgo em cima das mesmas palavras, dos mesmos temas, do que descrevo como centro da minha moldura.
Observo o que é externo e tudo contamina, toque e objeto tornam-se uma só superfície.
Desequilibro entre a origem e o futuro, não há ali arquitetura onde os pés possam se firmar.
Os tecidos tremem, de fora ouço esse ranger, latejantam de uma crença de angústia tão plena que figura pulsão no movimento que tensiona a garganta.
De punhos vazios sigo atemporal, incerta do que sou transbordo fugidia.
Insisto em pontuar, demarcar final em uma mera escolha de palavra; não ultrapasso a limitação das linhas, as margens da folha.
Narro a minha história para não cair no emaranhado de dúvidas, porque quando calo indago muito a ponto de duvidar da solidez do real.
A existência é líquida, não se pode avistá-la de cima sem penetrar.
Mergulho, afogo-me e só aí saio do meu estado fetal.
Quando meus olhos deixam de se voltar para as minhas entranhas e miram o mundo, eu acordo.
Acordo sonâmbula, embriagada pelo lúdico e o almejo apaixonada.
Vivo em completa insatisfação de nunca vir-a-ser como uma lagarta imutável.
Obrigo-me a serrar o texto, pôr-lhe um fim com mãos de açougueiro.
Também costuro sempre uma retomada e teço meu texto sem fim.
Gaguejo as iniciais de um possível romance, mas volto sempre ao ciclo de escrever o nada na tentativa de algo escrever.

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