quinta-feira, 29 de julho de 2010

Por tantas vezes quis eu escrever, hoje apenas admito em tom menor que as palavras não me cabem nos punhos.
Com minhas mangas largas e desabotoadas até mesmo ao piano as mãos se embaraçam. Enrolam-se os dedos nas cordas de um violão e tocam uma valsinha irônica à inexistência de maestria, mas calam-se logo.
Permito que a angústia parta de mim para um século que só existe na palavra, tão sonhada que é a vida ali impressa. Fizeste da palavra éden e limbo, minha crença que tardiamente assisto nas películas.
Espetáculo do crer, do crer-se, da necessitade de ser mesmo que meramente humano e só, e mais nada, humano como palavra solúvel que desmancha-se quando se descola dos lábios puxada pelo vento.
Permita-se modular as próprias curvas com um pequeno Deus e saber que os limites do teu mundo não passam do espaço entre as costelas e a caixa craniana.
Os olhos nos ludibriam, de tão egóicos que são te avistam como cerne de toda a existência humana, porém és mero passante, inócuo como qualquer um.
Silencia-te e desce do pódio, murcha este peito e larga tua postura de imperatriz, já que a única previsão que nos resta é a de estarmos fadados ao pó, teu rosto desfigurará como o meu e os nossos traços nem mesmo o ego há de reconfigurar.