sábado, 29 de agosto de 2009

Este lugar ainda é um diário

Caro leitor,

Aquela página que está ali marcada... Dostoiévski, p.73 . Sim, exatamente aquela frase, aquela tão comum que você deve me ouvir dizer a um vazio anonimato: " - Estava pensando em você (...)" e não fugindo ao texto esperaria que o vazio falasse alguma coisa, mas não qualquer coisa, pois ele também teria que seguir um script, poderia ser outro, mas não seria aceito nenhuma negação como prévia.
Peço ao vazio mais um café, mais uma valsa, e dançamos um tanto que meus sapatos se desgastaram junto a minha face. O vazio me responde em silêncio sempre, entrelaço meus braços nos meus solitária e observo delicadamente meus olhos borrados no espelho, não sou uma pintura e me pinto para chegar ao teor de arte, e me pinto e exalo perfumarias distintas para o teu olfato, para o teu afeto, para prender o vazio no ventre, na garganta, no timbre seco da lágrima que se disfez na boca.
Eu não escrevo mais o vazio, o vazio é que escreve, que prende o pulso, esse vazio que é teu... só teu e que me toma.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Penso em escrever um conto, tenho um personagem, uma caneta, uma idéia, um suposto leitor. Penso escrever uma história onde a caneta esgota e borra a face do personagem, onde a idéia não se consolida, onde o suposto leitor não lê pq a folha está em branco.
Penso em trocar a caneta, reformular a idéia, redefinir o personagem, procurar um leitor.
E acabo por não escrever nada, leitor e personagem se devoram, a caneta é engolida pelo estojo, as pontas da folha a4 se fecham até o ventre.