quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Fragmentos de notas infinitas

3. Na última parada descia sempre cabisbaixa, olhos enterrados na penumbra, fio de cegueira luminosa e ao girar a chave logo o minhocário de tecidos se enroscava em seus pés pedindo para que ela se entregasse eternamente à ausência do apartamento uterino.

4. Amava poetas neste mês, principalmente míopes que nada sabiam de poesia.

5. Eram os dois corpos costurados pelas costelas, pouco se mexiam para que o outro não ficasse em desconforto. Ficaram parados durante um bom tempo, alguns trinta calendários. Esqueceram-se um do nome do outro, das faces e dos beijos, da telepatia das duas íris, até que perderam a voz, as declarações e, nesse vazio as unhas tingiam-se de vermelho e o nariz era o foco de qualquer paisagem.

6.Os homens nada sabem de amores, pois ela o olha durante muito tempo, todos os dias, da mesma carteira, freqüentadora assídua dos repetidos monólogos. E ele olha para a direita, para a esquerda, repara nas surdas e em seus véus de traços delineados.

7.Dorme muito, amassa ovelhas com seu cabelo e não sonha nada. Engole frascos para desfigurar rostos e apagar lembranças.

*A Notícia - Vozes Femininas nas anotações - 14 de dezembro de 2008
http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a2329925.xml&template=4187.dwt&edition=11298&section=1296

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